BLOG COM TEXTOS LITERÁRIOS PARA ENTRETENIMENTO


Para ler poemas, fragmentos e poesia em prosa que ousei publicar na internet, veja www.lapidandopedras.blogspot.com

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Baudelaire - Conselho aos Jovens Literatos - Dos Métodos de Composição


DOS MÉTODOS DE COMPOSIÇÃO

 

Hoje em dia, é preciso escrever muito; - portanto, é preciso andar depressa; - portanto, - é preciso apressar-se lentamente; portanto, é preciso que todos os golpes acertem e que nenhum toque seja inútil.

Para escrever depressa, é preciso ter sentido muito – ter arrastado consigo um assunto sem cessar, no passeio, no banho, no restaurante, e quase até junto à amante. (...)

Algumas pessoas, das mais distintas e conscienciosas (...) começam por encher bastante papel; chamam isso de recobrir a tela. Essa confusa operação tem por fim não perder nada. Depois, a cada vez que a recopiam, desbastam e podam. Mesmo que o resultado seja excelente, é abusar do próprio tempo e do próprio talento. Recobrir uma tela não é carrega-la de cores, é esboçar em esfregaços, é dispor massas em tons leves e transparentes – a tela deve estar coberta – em espírito – na hora em que o escritor pega da pena para escrever o título.

Diz-se que Balzac atravanca sua cópia e suas provas de maneira desordenada. (...) É sem dúvida esse método que muitas vezes dá ao estilo aquele não-sei-de-quê de difuso, de desarrumado e de rascunho – único defeito desse grande historiador.
 
(tradução Joanna Angélica de Melo e Marcella Mortara – Obra Completa – Nova Aguilar Editora)

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Nadaísmo - Gonzalo Arango - 1958



'in' Primer Manifiesto Nadaísta: La Malvada intención

 
“[…] ustedes, por estar leyendo la crónica social… las recetas de cocina y el manual para portarse bien en sociedad… por estar alelados mirando la televisión o las estrellas… y baboseándose con las poesías a miss universo… ustedes, los poetas que fabrican sobre el diccionario de rimas un poema quincenal...Ustedes, los intelectuales conformistas para quienes es muy cómodo el nihilismo…ustedes, los burócratas liberales y conservadores que ya perdieron el sentido de lo maravilloso… ustedes, los inspectores de la moral, que confunden el ‘hula-hula’ con el marques de sade… ustedes, los sexólogos de ideas fijas, con un falo abstracto y circular… nosotros protestamos contra ustedes que se oponen a la satisfacción de los instintos naturales y al derecho de legitimar esos instintos por las vías legales de la imaginación... ustedes, los reales académicos y tratadistas de la forma, que no saben lo que se anida en las cloacas, y que no han mirado desde las alcantarillas el nacimiento del sol…ustedes los estudiantes de urbanidad y de retorica que ya saben rimarle un verso a la prostituta y limpiarse la jeta con elegancia…[…] ustedes, los policías, que no saben cómo los poetas preñan las rosas…ustedes, los críticos de arte y literatura que han leído la citología y a kant, […] nosotros no tenemos nada qué ver con quienes no tiene problemas, ni dudas, ellos están salvados…pero queremos confesarles una malvada intención a la burguesía… señores burgueses: el nadaísmo se fundó para pervertir a vuestros hijos, vamos a interrumpir vuestro sueño y a despertar en vuestras alcobas inquietantes y terribles gérmenes de zozobra… vuestros hijos regresarán una noche a pediros cuentas, ebrios y poseídos de una terrible cólera… yo los conozco, son peligrosos.”

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

GONZALO ARANGO



GONZALO ARANGO – PLANAS: CRIMEN SIN CASTIGO

 

“Lo que pasa es que ustedes han alimentado al tigre con la carne del pobre, y yo creo que también es justo para el tigre que elija la carne que más le guste. Los pobres indios y negros de este País ya están hartos de ser carne de tigre; por eso, hay que abrir la jaula.”

sábado, 22 de setembro de 2012

ANA AKHMÁTOVA


Ela não teria seguido ('fielmente') o movimento dos poetas russos do século XX. Dizem "neo-clássica". Um resumo da biografia esclarece que, ainda não seguindo a 'corrente', ela não fugiu da Rússia do seu tempo, como muitos outros; nem, ao menos, quando seu marido, outro poeta, fora fuzilado no país. O verso - a poesia - era para ela todos os estados e governos da conjutura total da sua época. Neste domínio da arte, há alegria para a autora, ainda que tendo sofrido suas experiências de vida particulares.


Do Ciclo 'Os Mistérios do Ofício' - Ana Akhmátova

Não me importa o exército das odes,
Nem o jogo torneado da elegia.
Nos versos, tudo é fora de propósito,
Não como entre as pessoas, - me dizia.

Saibam vocês, o verso, é do monturo
Que ele se alenta, sem vexame disso,
Como um dente-de-leão pegado ao muro,
Anserina, bardana, erva-de-lixo.

Grito de zanga, um travo de alcatrão,
Um bolor misterioso que esverdinha...
E eis o verso, furor e mansidão,
Para a alegria de vocês e minha.

 [Trad. Haroldo de Campos e Bóris Schnaiderman]

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

TEXTO: CORTÁZAR - ASUNTO: POE - CRÍTICA: LA CRÍTICA POR HUXLEY



Por otra parte, sin embargo, esta frialdad, paradójicamente visible en el entusiasmo de la investigación, deriva de una actitud condenable: la de desconocer que la profunda presencia de Poe en la literatura es un hecho más importante que las flaquezas o deméritos de una parte de su obra. Cuando un Aldous Huxley borda pulcras variaciones sobre el mal gusto de Poe, ejemplificándolo con pasajes de sus poemas más famosos, cabe preguntarse por qué esos poemas están presentes en su memoria y su irritación cuando tantos otros de impecable factura duermen olvidados por él....

terça-feira, 18 de setembro de 2012

EL AMOR EN LOS TIEMPOS DEL CÓLERA - FIN


Florentino Ariza lo escuchó sin pestañear. Luego miró por las ventanas el círculo completo del cuadrante de la rosa náutica, el horizonte nítido, el cielo de diciembre sin una sola nube, las aguas navegables hasta siempre, y dijo:

-Sigamos derecho, derecho, derecho, otra vez hasta La Dorada.

Fermina Daza se estremeció, porque reconoció la antigua voz iluminada por la gracia del Espíritu Santo, y miró al capitán: él era el destino. Pero el capitán no la vio, porque estaba anonadado por el tremendo poder de inspiración de Florentino Ariza.

-¿Lo dice en serio? -le preguntó.

-Desde que nací -dijo Florentino Ariza-, no he dicho una sola cosa que no sea en serio.

El capitán miró a Fermina Daza y vio en sus pestañas los primeros destellos de una escarcha invernal. Luego miró a Florentino Ariza, su dominio invencible, su amor impávido, y lo asustó la sospecha tardía de que es la vida, más que la muerte, la que no tiene límites.

-¿Y hasta cuándo cree usted que podemos seguir en este ir y venir del carajo? -le preguntó.

Florentino Ariza tenía la respuesta preparada desde hacía cincuenta y tres años, siete meses y once días con sus noches.

-Toda la vida --dijo.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

CAMPOS DE CARVALHO - A LUA VEM DA ÁSIA

Capítulo Primeiro

Aos 16 anos matei meu professor de lógica. Invocando a legítima defesa - e qual defesa seria mais legítima? - logrei ser absolvido por cinco votos  contra dois, e fui morar sob uma ponte do Sena, embora nunca tenha estado em Paris.

* * *

Nota minha: outro dia comentei sobre o 'modo' pelo qual um autor deveria começar uma prosa qualquer... e um amigo me respondeu, acertadamente, 'ora, começando...'. Mas, volta e meia, continuo encontrando 'alguns modos' de começar uma prosa peculiares. Como as linhas transcritas acima. Campos de Carvalho, reconhecido depois do seu tempo, relembro, ainda foi colaborador do semanário 'O Pasquim'.

(Carvalho, Campos de, em Obra Reunida; 3a Edição. Editora José Olympio, Rio de Janeiro: 2002)

sábado, 15 de setembro de 2012

MODERNISMO, SURREALISMO E MURILO MENDES – NOTAS: JOSÉ GUILHERME MERQUIOR – POEMA: CONHECIMENTO.



MERQUIOR

 

“(...) o modernismo brasileiro foi um estilo híbrido e heterogêneo, feito da convivência ou fricção de ‘estilemas’ tipicamente ‘arte moderna’. (...) Por isso mesmo é que nosso modernismo literário seria (...) um ‘complexo’ estilístico. Não foi por acaso que só pôde ter a unidade de um ‘movimento’, jamais a uniformidade de uma ‘escola’. (...).”

 

“(...) Por outro lado, porém, mesmo instintivamente é fácil perceber que há algo inadequado em encarar-se o surrealismo como um ‘estilo’. (...) Quer dizer, o projeto surreal não era, em substância, estético, mas sim de cunho, antes de tudo, existencial. (...) do ponto de vista de suas intenções originárias, patenteadas pela maioria dos seus ritos semióticos, o surrealismo não se queria um estilo a mais, e sim uma autêntica ‘revolução cultural’. (...).”

 

“(...) e não às receitas de escola, tipo ‘escrita automática’ (...). O vou-me-emborismo, o legado baudelaireano e rimbaudiano da ‘poesia da partida’, encontra em Murilo um desdobramento dialético, representado por um constante impulso de estar no mundo. (...) Em Murilo, a ruptura onírica, o transfiguracionismo visionário possuem sempre um endereço infalivelmente imanentista.”

 

“(...) ‘Murilo orienta decisivamente a mescla estilística inerente à poesia surreal’ – a tensão, no verso, entre a visão ‘problemática’ da vida e as múltiplas referências ao reino do cotidiano e do vulgar – ‘para uma ótica saturnal’. (...).”

 

“(...) Os modernismos, como é sabido, de vez em quando gostavam de fazer pipi no colo do decoro literário. A ‘distância clássica’ da imagística, a eufonia do ritmo na média da alta poesia vitoriana passaram de repente a soar tão falso, que somente hoje, com um quarto de século de permeio, recomeçamos a apreciar com isenção a ética da estética oitocentista. Nos anos heroicos da vanguarda, isso era, naturalmente, quase impossível, e Pound (com quem Murilo se entendeu muito bem) reclamava virtuoso a rejeição de toda ‘Tennysoniannes of speech’. (...).”

 

* * * * *

 

Minha nota: até hoje, muitos poetas, críticos e teóricos insistem em negar a apreciação da ética contida na estética de outros tempos, por causa de suas estéticas, gostos, preconceitos e ideologias próprias, esquecendo-se do conteúdo ético que não se aprende via ‘escolas’.

 

* * * * *

 

MURILO MENDES – CONHECIMENTO (em A Poesia em Pânico – 1937)

 

CONHECIMENTO

 

A marcha das constelações me segue até no lodo.

Estendo os braços para separar os tempos

E indico ao navio de poetas o caminho do pânico.

Quem sou eu? A sombra ambulante de meus pais até o primeiro homem,

Quem sou eu? Um cérebro deixado em pasto aos bichos,

Sou a fome de mim mesmo e de todos,

Sou o alimento dos outros,

Sou o bem encarcerado e o mal que não germina.

Sou a própria esfinge que me devora.

 

* * * * *

 

(Merquior, José Guilherme. Notas para uma Murisloscopia; e Mendes, Murilo. Poesia Completa e Prosa. Volume único. Nova Aguilar: Rio de Janeiro: 1994)

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

SEVEN SEALS - D.H.Lawrence

THE SEVENTH SEAL

O último livro do novo testamento, Apocalipse, descreve em seus capítulos sete selos, ou sete confirmações, autenticações, em tom profético, os quais protegeriam o próprio livro. Segundo um amigo, são sete passagens apocalípticas nas quais não se encontraria a gênese. Não se encontraria a gênese, sim; pois, ao final de cada século, a humanidade tem optado pela guerra ao longo dos temp
os. Os seis primeiros selos estão contidos no capítulo 6; e, o sétimo selo, no 8 do "Book of Revelations". Tema artístico de ontem, hoje e amanhã. O destaque fica para o filme de Ingmar Bergman, com Max von Sydow, imperdível. Aqui, um trecho (parte final), sobre o mesmo tema, cantado, em poesia, por D.H.Lawrence... No texto abaixo, há um viés do apocalipse bíblico: a espada do Senhor seria afiada, como os versos encerram o poema.
 

 SEVEN SEALS

(...)

And there
Full mid-between the champaign of your breast
I place a great and burning seal of love
Like a dark rose, a mystery of rest
On the slow bubbling of your rhythmic heart.

Nay, I persist, and very faith shall keep
You integral to me. Each door, each mystic port
Of egress from you I will seal and steep
In perfect chrism.

Now it is done. The mort
Will sound in heaven before it is undone.

But let me finish what I have begun
And shirt you now invulnerable in the mail
Of iron kisses, kisses linked like steel.
Put greaves upon your thighs and knees, and frail
Webbing of steel on your feet. So you shall feel
Ensheathed invulnerable with me, with seven
Great seals upon your outgoings, and woven
Chain of my mystic will wrapped perfectly
Upon you, wrapped in indomitable me.

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

'CANCIONEIRO' - FERNANDO PESSOA - ABAT-JOUR

"Fixar um estado de alma, ainda que não o seja, em versos que o traduzam impessoalmente; descrever as emoções que se não sentiram com a própria emoção com que sentiram - é este o privilégio do poeta, se o não o fossem, ninguém os acreditava.....De resto, o único prefácio de uma obra é o cérebro que quem a lê."

(IX, Para a compreensão de 'cancioneiro', de 'Páginas Íntimas e de Auto-Interpretação'
; Ed. Atíca, Lisboa). Um mero 'abat-jour' causa tudo isso...

ABAT-JOUR

A lâmpada acesa
(Outrem a acendeu)
Baixa uma beleza
Sobre o chão que é meu.
No quarto deserto
Salvo o meu sonhar,
Faz no chão incerto
Um círculo a ondear.
E entre a sombra e a luz
Que oscila no chão
Meu sonho conduz
Minha inatenção.
Bem sei ... Era dia
E longe de aqui...
Quanto me sorria
O que nunca vi!
E no quarto silente
Com a luz a ondear
Deixei vagamente
Até de sonhar...

Com Simony Braga
, FERNANDO PESSOA, POESIAS. (Nota explicativa de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.) ( Lisboa: Ática, 1942, 15ª ed. 1995), in CANCIONEIRO.

sábado, 1 de setembro de 2012

FRAGMENTOS - 'PORTRAIT OF A LADY - PRUFROCK - 1917, T.S.Eliot

II
 

Now that lilacs are in bloom / She has a bowl of lilacs in her room / and twists one in her fingers while she talks. / 'Ah, my friend, you do not know, you do not know / What life is, you who hold it in your hands' / (slowly twisting the lilac stalks) / 'You let it flow from you, you let it flow, / And youth is cruel, and has no remorse / And smiles at situations which it cannot see' / I smile, of course / And go on drinking tea.

You are invulnerable; you have no Achilles’ heel. / You will go on, and when you have prevailed / you can say: at this point many one has failed. / But what have I, my friend / to give you, what can you receive from me? / Only the friendship and the sympathy / of one about to reach a journey’s end. / I shall sit here, serving tea for friends…
 

I take my hat: how can I make a cowardly amend / for what she has said to me? / You will see me any morning in the park / reading comics and the sporting page. / Particularly I remark / An English countess goes upon the stage. / A Greek was murdered at a Polish dance. / Another bank defaulter has confessed. / I keep my countenance, / I remain self-possessed / except when a street – piano / reiterates some common song / with the smell of hyacinths across the garden / recalling things that other people have desired. / Are these ideas wright or wrong?

III

 

‘Perhaps you can write to me.’ / My self-possession flares up for a second; / ‘this is what’ as I had reckoned. / ‘I have been wondering frequently of late / (but our beginnings never know our ends) / why we have not developed into friends.’ / I feel like one who smiles / and turning shall remark / suddenly, his expression in a glass. / My self-possession gutters; / We are really in the dark.
 

‘For everybody said so, all of our friends / they all were sure our feelings would relate / so closely! I myself can hardly understand. / We must leave it now to fate. / You will write, at any rate. / Perhaps it is not too late. / I shall sit here serving tea for friends’.
 

And I must borrow every changing shape / to find an expression… dance, dance / like a dancing bear / cry like a parrot, chatter like an ape. / Let us take the air / in a tobacco trance –


Well!! What if she should die some afternoon / should die and leave me / sitting pen in a hand/ with the smoking coming down / above the housetops; / doubtful, for a while / not knowing what to feel or if I understand / or whether wise or foolish / tardy or too soon… / Would she not have the advantage, after all? / This music is successful with a ‘dying fall’, / now that we talk about dying – / Should I have the right to smile?



quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Del Sentimiento de lo Fantástico - Julio Cortázar



DEL SENTIMIENTO DE LO FANTÁSTICO – Julio Cortázar

 

Esta mañana Teodoro W. Adorno hizo una cosa de gato: en mitad de un apasionado discurso, se quedó inmóvil y rígido mirando fijamente un punto del aire en el que para mí no había nada que ver hasta la pared donde cuelga la jaula del obispo de Evreux, que jamás ha despertado el interés de Teodoro. Cualquier señora inglesa hubiera dicho que el gato estaba mirando un fantasma matinal, los más auténticos y verificables, y que el paso dela rigidez inicial a un lento movimiento de la cabeza de izquierda a derecha, terminando en la línea de visión de la puerta, demostraba de sobra que el fantasma acabara de marcharse, probablemente incomodado por esa detección implacable.

 

(La Vuelta al Día en Ochenta Mundos – Tomo I – Siglo Veintiuno Editores. Buenos Aires: 1996)

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

DE LA SERIEDAD EN LOS VELORIOS




(…)



De entre eses relatos elijo, sabiendo que lo malogro, la historia de cómo unos conocidos de Gancedo que llamaré prudentemente de Solano y Copitas fueran a un velorio y lo que pasó en él.

A Solano le tocó acarrear el pésame en nombre de los compañeros de oficina del difunto, changa que le abrumó al punto de buscar apoyo moral en el mostrador de un bar donde ya estaba Copitas en abierta demonstración de lo acertado del sobrenombre. A la sexta grapa Copitas condescendió a acompañar a Solano para levantarle el ánimo, y cayeron al velorio en alto grado de emoción etílica. Le tocó a Copitas entrar primero en la capilla ardiente, y aunque en su vida había visto al muerto, se acercó el ataúd, lo contempló recogido, y volviéndose a Solano le dijo con ese tono que sólo suscitan y quizá oyen los finados:

- Está idéntico.

A Solano este le produjo un tal ataque de hilaridad que sólo pudo disimularlo abrazándose estrechamente a Copitas, que a su vez lloraba de risa, y así se quedaron tres minutos, sacudidos los hombros por terribles estremecimientos, hasta que uno de los hermanos del difunto que conocía vagamente a Solano se les acercó para consolarlos.

- Créanme, señores, que jamás me hubiera imaginado en que la oficina lo querían tanto a Gancedo... Dijo… Como no iba casi nunca…



(La vuelta al día en ochenta mundos – Tomo I – Siglo Veintiuno Editores. Buenos Aires: 1996)

sábado, 7 de julho de 2012

HAY QUE SER REALMENTE IDIOTA - JULIO CORTÁZAR (fragmentos)



Hace años que me doy cuenta y no me importo, pero nunca se me ocurrió escribirlo porque la idiotez me parece un tema muy desagradable, especialmente se es el idiota quien lo expone. Puede que la palabra idiota sea demasiado rotunda, pero prefiero ponerla de entrada y calentita sobre el plato aunque los amigos la crean exagerada, en vez de emplear cualquier otra como tonto, lelo o retardado y que después los mismos amigos opinen que uno se ha quedado corto. En realidad no pasa nada grave pero ser idiota lo pone a uno completamente aparte, y aunque tiene sus cosas buenas es evidente que de a ratos hay como una nostalgia, un deseo de cruzar a la vereda de enfrente donde amigos y parientes están reunidos en una misma inteligencia y comprensión, y frotarse un poco contra ellos para sentir que no hay diferencia apreciable y que todo va buenísimo. (…)

Me divierto o me conmuevo enormemente (…) y en todo caso me alegro de vivir y de haber tenido la suerte de ir a cualquier sitio donde gentes extraordinarias están haciendo o mostrando cosas que jamás se habían imaginado antes, inventando un lugar de revelación y de encuentros, algo que lava de los momentos en que no ocurre nada más que lo que ocurre todo el tiempo. (…)

Ahora que lo pienso la idiotez debe ser eso: poder entusiasmarse todo el tiempo por cualquier cosa que a uno le guste, sin que un dibujito en una pared tenga que verse menoscabado por el recuerdo de su existencia. La idiotez debe ser una especie de presencia y recomienzo constante. (…)

Ahora si me gusta, ahora me gusta tanto, ahora soy yo, reincidentemente yo, el idiota perfecto que en su idiotez que no sabe que es idiota y goza perdido en su goce, hasta que la primera frase inteligente lo devuelva a la consciencia de su idiotez y lo haga buscar presuroso un cigarrillo con manos torpes, mirando el suelo, comprendiendo y a veces aceptando porque también un idiota tiene que vivir.

quarta-feira, 20 de junho de 2012

POEMA DE LOS DONES - BORGES



Para quem quiser se arriscar no espanhol e ler o original de Borges, "Poema de los Dones". Este foi publicado em 60, no clássico "El Hacedor". Cinco anos depois ele publicou outro poema, chamado "Otro Poema de los Dones". Boa chuveirada! Não precisa nem conhecer o espanhol para contemplar um belo poema. O outro poema? Fica pra depois...

Poema de los Dones

Nadie rebaje a lágrima o reproche

esta declaración de la maestría
de Dios, que con magnífica ironía
me dio a la vez los libros y la noche.

De esta ciudad de libros hizo dueños
a unos ojos sin luz, que sólo pueden
leer en las bibliotecas de los sueños
los insensatos párrafos que ceden

las albas a su afán. En vano el día
les prodiga sus libros infinitos,
arduos como los arduos manuscritos
que perecieron en Alejandría.

De hambre y de sed (narra una historia griega)
muere un rey entre fuentes y jardines;
yo fatigo sin rumbo los confines
de esta alta y honda biblioteca ciega.

Enciclopedias, atlas, el Oriente
y el Occidente, siglos, dinastías,
símbolos, cosmos y cosmogonías
brindan los muros, pero inútilmente.

Lento en mi sombra, la penumbra hueca
exploro con el báculo indeciso,
yo, que me figuraba el Paraíso
bajo la especie de una biblioteca.

Algo, que ciertamente no se nombra
con la palabra azar, rige estas cosas;
otro ya recibió en otras borrosas
tardes los muchos libros y la sombra.

Al errar por las lentas galerías
suelo sentir con vago horror sagrado
que soy el otro, el muerto, que habrá dado
los mismos pasos en los mismos días.

¿Cuál de los dos escribe este poema
de un yo plural y de una sola sombra?
¿Qué importa la palabra que me nombra
si es indiviso y uno el anatema?

Groussac o Borges, miro este querido
mundo que se deforma y que se apaga
en una pálida ceniza vaga
que se parece al sueño y al olvido.

terça-feira, 8 de maio de 2012

AND DEATH SHALL HAVE NO DOMINION - DYLAN THOMAS



O time saxônico tem um viés particular ao cantar. Como Yeats, poeta ao que já me referi, imprimem realidades a significados escancarados, seja a temática morte, amor, metapoesia, etc.... E as imagens, salvo equívoco, seguem. E o ritmo... este, vem de quebra.... Abaixo um clássico de qualquer coletânea.
 

 AND DEATH SHALL HAVE NO DOMINION

And death shall have no dominion.
Dead mean naked they shall be one
With the man in the wind and the west moon;
When their bones are picked clean and the clean bones gone,
They shall have stars at elbow and foot;
Though they go mad they shall be sane,
Though they sink through the sea they shall rise again;
Though lovers be lost love shall not;
And death shall have no dominion.

And death shall have no dominion.
Under the windings of the sea
They lying long shall not die windily;
Twisting on racks when sinews give way,
Strapped to a wheel, yet they shall not break;
Faith in their hands shall snap in two,
And the unicorn evils run them through;
Split all ends up they shan't crack;
And death shall have no dominion.

And death shall have no dominion.
No more may gulls cry at their ears
Or waves break loud on the seashores;
Where blew a flower may a flower no more
Lift its head to the blows of the rain;
Though they be mad and dead as nails,
Heads of the characters hammer through daisies;
Break in the sun till the sun breaks down,
And death shall have no dominion.




Há nítido foco no significado.  Primeiro o significado; as imagens o acompanham; e, o ritmo parece vir automático. Por quê?... Quantas linhas em sugestões imperativas ou afirmativas....?

segunda-feira, 7 de maio de 2012

ESPANQUEMOS OS POBRES - BAUDELAIRE



(tradução Aurélio Buarque de Holanda Ferreira)


(...)


Quando ia entrar num bar, um mendigo estendeu-me o chapéu com um desses inesquecíveis olhares que derrubariam tronos, se é que o espírito removesse a matéria e se o olho de um hipnotizador fizesse as uvas amadurecerem. 

 (...)

Imediatamente saltei sobre meu mendigo. Com um único soco fechei-lhe um olho, que, em um segundo, tornou-se inchado como uma bola. Quebrei uma unha ao partir-lhe dois dentes, e como eu não me sentisse bastante forte, tendo nascido de compleição delicada e tivesse pouca prática de boxe, para desancar aquele velho, peguei-o com uma das mãos pela gola de seu casaco e com a outra lhe agarrei a garganta e me pus a sacudi-lo, vigorosamente, cabeça contra a parede. Devo confessar que já havia previamente inspecionado os arredores com uma olhada e havia verificado que naquele subúrbio deserto eu me achava, por algum tempo, fora do alcance de qualquer policial.

Tendo, em seguida, com um pontapé, dado em suas costas, bastante enérgico para lhe quebrar as omoplatas, botei por terra aquele sexagenário enfraquecido; peguei, então, um grosso galho de árvore, que estava jogado no chão, e bati nele com a energia obstinada dos cozinheiros que querem amolecer um bife.

De repetente – ó milagre! Ó alegria do filósofo que verifica a excelência de sua teoria – vi esta antiga carcaça se virar, se levantar com uma energia que eu jamais suspeitaria que houvesse numa máquina de tal modo danificada, e, com um olhar de raiva que me pareceu de bom augúrio, o malandro decrépito jogou-se sobre mim, socou-me os dois olhos, quebrou-me quatro dentes e, com o mesmo galho de árvore, bateu-me fortemente. Pela minha enérgica medicação, eu lhe havia restituído o orgulho e a vida.

Então, eu lhe fiz sinais enérgicos para que compreendesse que eu considerava nossa discussão terminada e, levantando-me com a satisfação de um sofista de Pórtico, lhe disse: “Meu senhor, o senhor é meu igual! Queira dar-me a honra de aceitar que eu divida minha bolsa consigo, e lembre-se: se você é realmente filantropo, que é preciso aplicar, em todos os seus confrades, quando eles lhe pedirem esmolas, a mesma teoria que eu tive o sofrimento de experimentar sobre suas costas.”

Ele me jurou que havia compreendido a minha teoria e que obedeceria aos meus conselhos.

quarta-feira, 2 de maio de 2012

O MAU VIDRACEIRO - BAUDELAIRE - POEMA EM PROSA




Há naturezas meramente contemplativas e de todo inaptas para a ação, mas que, sob um impulso misterioso e desconhecido, agem por vezes com uma rapidez de que elas mesmas se julgariam incapazes.

Uma pessoa que, com receio de receber do porteiro uma notícia aflitiva, ronda medrosa uma hora em torno da porta sem se decidir a entrar; outra que, durante quinze dias guarda uma carta sem abri-la ou só ao fim de seis meses resolve tomar a providência que se fazia necessária desde um ano atrás, sentem-se, em dados instantes, impelidas para a ação por uma força irresistível, como a flecha de um arco. O moralista e o médico, que tudo pertencem saber, não podem explicar donde vem tão de repente uma tão louca energia a essas almas preguiçosas e voluptuosas, e como, incapazes de realizar as coisas mais simples e mais necessárias, encontram elas em certo momento uma esplêndida coragem para executar os atos mais absurdos e, não raro, até os mais arriscados.

Um de meus amigos, o mais inofensivo sonhador que porventura já existiu, certa vez ateou fogo a uma floresta para ver, dizia ele, se o fogo pegava com tanta facilidade como se costuma afirmar. Dez vezes seguidas a experiência falhou; mas na undécima o resultado excedeu a expectativa.

Outro acenderá um charuto perto de um barril de pólvora, para ver, para saber, para tentar a sorte, para se obrigar a si mesmo a dar prova de energia, para se fazer de jogador, para conhecer os prazeres da ansiedade, para coisa nenhuma, por capricho, por falta de ocupação.

É uma espécie de energia que brota do devaneio e do tédio; e aqueles em quem ela se manifesta de maneira tão inopinada são, em geral, como já o disse, os mais indolentes e os mais sonhadores entre os seres.

Outro, tímido a ponto de baixar os olhos até ante os olhares dos homens, a ponto de lhe ser preciso enfeixar todas as parcelas de sua pobre vontade para entrar num café ou passar à portaria dum teatro, onde os porteiros lhe parecem investidos na majestade de Minos, de Éaco ou de Radamento, saltará de relance ao pescoço de um velho que caminha a seu lado e o beijará com entusiasmo perante a multidão atônita.

Por quê? Porque... porque essa fisionomia lhe era irresistivelmente simpática? Talvez; mas é mais lícito supor que ele mesmo não sabe por quê.

Mais de uma vez fui vítima destas crises e destes impulsos, que nos autorizam a crer que malignos Demônios se infiltram em nós e nos induzem a realizar, à nossa revelia, os seus mais absurdos caprichos.

Certa manhã, levantara-me aborrecido, triste, fatigado de inércia, e impelido, parecia-me, a fazer algo grandioso, uma ação brilhante; e abri a janela - ai de mim!

(Observem, por favor: o espírito de mistificação, que, nalguns seres, não resulta de trabalho ou de cálculo, mas de uma inspiração eventual, participa muito, ao menos pelo ardor do desejo, desse humor - histérico segundo os médicos, satânico segundo os que pensam um pouco melhor que os médicos - que nos arrasta sem resistência a inúmeras ações perigosas ou incovenientes.)

A primeira pessoa que avistei na rua foi um vidraceiro, cujo grito dilacerante, dissonante, subiu até mim através da pesada e suja atmosfera parisiense. Ser-me-ia impossível dizer por quê - senti-me possuído, em relação àquele homem, de um ódio súbito e despótico.

- Olá! Olá!

Gritei-lhe que subisse. Entretanto refletia, não sem algum prazer, que, ficando o quarto no sexto andar e sendo a escada muito estreita, ele teria de sentir alguma dificuldade em realizar a ascensão, e não poderia defender de numerosos esbarrões a sua frágil mercadoria.

Apareceu, afinal; examinei-os, curioso, todos os seus vidros, e disse-lhe:

- Como? Não tem vidro de cor? vidros róseos, vermelhos, azuis, vidros mágicos, vidros paradisíacos? Descarado! ousa andar em bairros pobres, e não tem, sequer, vidros que façam ver o lado belo da vida!

E empurrei-o energicamente para a escada, onde ele tropeçou, a resmungar.

Aproximei-me do balcão, agarrei um pequeno jarro de flores e, quando o homem reapareceu na soleira, deixei cair perpendicularmente a minha máquina de guerra sobre o resultado posterior da sua carga; e, como o choque o derrubasse de costas, ele acabou de espedaçar sob o dorso toda a sua pobre fortuna ambulatória, que produziu o fragor de um palácio de cristal fendido pelo raio.

E, ébrio da minha loucura, gritei-lhe furioso:


- O lado belo da vida! O lado belo da vida!

Esses graciosos nervosos não deixam de ter o seu perigo, e podem muitas vezes custar caro. Que importa, porém, a danação eterna a quem encontrou num segundo o infinito do prazer?

sábado, 14 de abril de 2012

EL POETA PIDE A SU AMOR QUE LE ESCRIBA (GARCÍA LORCA)


Amor de mis entrañas, viva muerte,
en vano espero tu palabra escrita
y pienso, con la flor que se marchita,
que si vivo sin mí quiero perderte.

El aire es inmortal. La piedra inerte
ni conoce la sombra ni la evita.
Corazón interior no necesita
la miel helada que la luna vierte.

Pero yo te sufrí. Rasgué mis venas,
tigre y paloma, sobre tu cintura
en duelo de mordiscos y azucenas.

Llena, pues, de palabras mi locura
o déjame vivir en mi serena
noche del alma para siempre oscura.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

OLIVERIO GIRONDO 6 - ESPANTAPAJAROS

Mis nervios desafinan con la misma frecuencia que mis primas. Si por casualidad, cuando me acuesto, dejo de alarme a los barrotes de la cama, a los quince minutos me despierto, indefectiblemente, sobre el techo de mi ropero. En ese cuarto de hora, sin embargo, he tenido tiempo de estrangular a mis hermanos, de arrojarme en algún precipicio y de quedar colgado de las ramas de un espinillo.

Mi digestión inventa una cuantidad de crustáceos, que se entretienen en perforarme el intestino. Desde la infancia, necesito que me desabrochen los tiradores, antes de sentarme en alguma parte, y es rarísimo que pueda sonarme la nariz sin encontrar en el pannuelo un cadáver de cucaracha.

Todavia, cuando llovizna, me duele la pierna que me aputaron hace tres annos. Mi rìnnon derecho es un maní. Mi rínnon izquierdo se encuentra en el museo de la Facultad de Medicina. Soy políglota y tartamudo. He perdido, a la loteria, hasta las unnas de los pies, y en el instante de firmar mi acta matrimonial, me di cuenta que me había casado con una cacatúa.

Las margenes de los libros no son capaces de encauzar mi aburrimiento y mi dolor. Hasta las ideas más optimistas toman un coche fúnebre para pasearse por mi cerebro. Me repugna el bostezo de las camas deshechas, no siento ninguna propensión por empollarme los senos a las mujeres, y me enferma que los boticarios se equivoquen, con tan poca frecuencia, en los preparados de estricnina.

En estas condiciones, creo sincermente que lo mejor es tragarse una cápsula de dinamita y encender, con toda tranquilidad, un cigarrillo.

domingo, 8 de janeiro de 2012

O LABOR DISCRETO - WALDO MOTTA

Às vezes, abro um livro aleatoriamente, leio um poema que me causa certa primeira impressão. Raramente, vou diretamente ao primeiro poema. Fiz isso com João Cabral de Melo Neto. Hoje, transcrevo o primeiro poema do livro Transpaixão, do Waldo Motta.

O LABOR DISCRETO

As coisas não mudam assim
da noite para o dia, céleres.

Por isso, perdi a flama
que fazia de meus versos

uma tocha iracunda.
Porque no final das contas

o importante é ter mudado
um pouco de mim, ao menos.

O cupim, no anonimato,
rói as vértebras deste tempo.

Waldo Motta, in Transpaixão, Editora da Universidade Federal do Espírito Santo, 2a Edição, Vitória: 2008