Às vezes, abro um livro aleatoriamente, leio um poema que me causa certa primeira impressão. Raramente, vou diretamente ao primeiro poema. Fiz isso com João Cabral de Melo Neto. Hoje, transcrevo o primeiro poema do livro Transpaixão, do Waldo Motta.
O LABOR DISCRETO
As coisas não mudam assim
da noite para o dia, céleres.
Por isso, perdi a flama
que fazia de meus versos
uma tocha iracunda.
Porque no final das contas
o importante é ter mudado
um pouco de mim, ao menos.
O cupim, no anonimato,
rói as vértebras deste tempo.
Waldo Motta, in Transpaixão, Editora da Universidade Federal do Espírito Santo, 2a Edição, Vitória: 2008