BLOG COM TEXTOS LITERÁRIOS PARA ENTRETENIMENTO


Para ler poemas, fragmentos e poesia em prosa que ousei publicar na internet, veja www.lapidandopedras.blogspot.com

terça-feira, 8 de maio de 2012

AND DEATH SHALL HAVE NO DOMINION - DYLAN THOMAS



O time saxônico tem um viés particular ao cantar. Como Yeats, poeta ao que já me referi, imprimem realidades a significados escancarados, seja a temática morte, amor, metapoesia, etc.... E as imagens, salvo equívoco, seguem. E o ritmo... este, vem de quebra.... Abaixo um clássico de qualquer coletânea.
 

 AND DEATH SHALL HAVE NO DOMINION

And death shall have no dominion.
Dead mean naked they shall be one
With the man in the wind and the west moon;
When their bones are picked clean and the clean bones gone,
They shall have stars at elbow and foot;
Though they go mad they shall be sane,
Though they sink through the sea they shall rise again;
Though lovers be lost love shall not;
And death shall have no dominion.

And death shall have no dominion.
Under the windings of the sea
They lying long shall not die windily;
Twisting on racks when sinews give way,
Strapped to a wheel, yet they shall not break;
Faith in their hands shall snap in two,
And the unicorn evils run them through;
Split all ends up they shan't crack;
And death shall have no dominion.

And death shall have no dominion.
No more may gulls cry at their ears
Or waves break loud on the seashores;
Where blew a flower may a flower no more
Lift its head to the blows of the rain;
Though they be mad and dead as nails,
Heads of the characters hammer through daisies;
Break in the sun till the sun breaks down,
And death shall have no dominion.




Há nítido foco no significado.  Primeiro o significado; as imagens o acompanham; e, o ritmo parece vir automático. Por quê?... Quantas linhas em sugestões imperativas ou afirmativas....?

segunda-feira, 7 de maio de 2012

ESPANQUEMOS OS POBRES - BAUDELAIRE



(tradução Aurélio Buarque de Holanda Ferreira)


(...)


Quando ia entrar num bar, um mendigo estendeu-me o chapéu com um desses inesquecíveis olhares que derrubariam tronos, se é que o espírito removesse a matéria e se o olho de um hipnotizador fizesse as uvas amadurecerem. 

 (...)

Imediatamente saltei sobre meu mendigo. Com um único soco fechei-lhe um olho, que, em um segundo, tornou-se inchado como uma bola. Quebrei uma unha ao partir-lhe dois dentes, e como eu não me sentisse bastante forte, tendo nascido de compleição delicada e tivesse pouca prática de boxe, para desancar aquele velho, peguei-o com uma das mãos pela gola de seu casaco e com a outra lhe agarrei a garganta e me pus a sacudi-lo, vigorosamente, cabeça contra a parede. Devo confessar que já havia previamente inspecionado os arredores com uma olhada e havia verificado que naquele subúrbio deserto eu me achava, por algum tempo, fora do alcance de qualquer policial.

Tendo, em seguida, com um pontapé, dado em suas costas, bastante enérgico para lhe quebrar as omoplatas, botei por terra aquele sexagenário enfraquecido; peguei, então, um grosso galho de árvore, que estava jogado no chão, e bati nele com a energia obstinada dos cozinheiros que querem amolecer um bife.

De repetente – ó milagre! Ó alegria do filósofo que verifica a excelência de sua teoria – vi esta antiga carcaça se virar, se levantar com uma energia que eu jamais suspeitaria que houvesse numa máquina de tal modo danificada, e, com um olhar de raiva que me pareceu de bom augúrio, o malandro decrépito jogou-se sobre mim, socou-me os dois olhos, quebrou-me quatro dentes e, com o mesmo galho de árvore, bateu-me fortemente. Pela minha enérgica medicação, eu lhe havia restituído o orgulho e a vida.

Então, eu lhe fiz sinais enérgicos para que compreendesse que eu considerava nossa discussão terminada e, levantando-me com a satisfação de um sofista de Pórtico, lhe disse: “Meu senhor, o senhor é meu igual! Queira dar-me a honra de aceitar que eu divida minha bolsa consigo, e lembre-se: se você é realmente filantropo, que é preciso aplicar, em todos os seus confrades, quando eles lhe pedirem esmolas, a mesma teoria que eu tive o sofrimento de experimentar sobre suas costas.”

Ele me jurou que havia compreendido a minha teoria e que obedeceria aos meus conselhos.

quarta-feira, 2 de maio de 2012

O MAU VIDRACEIRO - BAUDELAIRE - POEMA EM PROSA




Há naturezas meramente contemplativas e de todo inaptas para a ação, mas que, sob um impulso misterioso e desconhecido, agem por vezes com uma rapidez de que elas mesmas se julgariam incapazes.

Uma pessoa que, com receio de receber do porteiro uma notícia aflitiva, ronda medrosa uma hora em torno da porta sem se decidir a entrar; outra que, durante quinze dias guarda uma carta sem abri-la ou só ao fim de seis meses resolve tomar a providência que se fazia necessária desde um ano atrás, sentem-se, em dados instantes, impelidas para a ação por uma força irresistível, como a flecha de um arco. O moralista e o médico, que tudo pertencem saber, não podem explicar donde vem tão de repente uma tão louca energia a essas almas preguiçosas e voluptuosas, e como, incapazes de realizar as coisas mais simples e mais necessárias, encontram elas em certo momento uma esplêndida coragem para executar os atos mais absurdos e, não raro, até os mais arriscados.

Um de meus amigos, o mais inofensivo sonhador que porventura já existiu, certa vez ateou fogo a uma floresta para ver, dizia ele, se o fogo pegava com tanta facilidade como se costuma afirmar. Dez vezes seguidas a experiência falhou; mas na undécima o resultado excedeu a expectativa.

Outro acenderá um charuto perto de um barril de pólvora, para ver, para saber, para tentar a sorte, para se obrigar a si mesmo a dar prova de energia, para se fazer de jogador, para conhecer os prazeres da ansiedade, para coisa nenhuma, por capricho, por falta de ocupação.

É uma espécie de energia que brota do devaneio e do tédio; e aqueles em quem ela se manifesta de maneira tão inopinada são, em geral, como já o disse, os mais indolentes e os mais sonhadores entre os seres.

Outro, tímido a ponto de baixar os olhos até ante os olhares dos homens, a ponto de lhe ser preciso enfeixar todas as parcelas de sua pobre vontade para entrar num café ou passar à portaria dum teatro, onde os porteiros lhe parecem investidos na majestade de Minos, de Éaco ou de Radamento, saltará de relance ao pescoço de um velho que caminha a seu lado e o beijará com entusiasmo perante a multidão atônita.

Por quê? Porque... porque essa fisionomia lhe era irresistivelmente simpática? Talvez; mas é mais lícito supor que ele mesmo não sabe por quê.

Mais de uma vez fui vítima destas crises e destes impulsos, que nos autorizam a crer que malignos Demônios se infiltram em nós e nos induzem a realizar, à nossa revelia, os seus mais absurdos caprichos.

Certa manhã, levantara-me aborrecido, triste, fatigado de inércia, e impelido, parecia-me, a fazer algo grandioso, uma ação brilhante; e abri a janela - ai de mim!

(Observem, por favor: o espírito de mistificação, que, nalguns seres, não resulta de trabalho ou de cálculo, mas de uma inspiração eventual, participa muito, ao menos pelo ardor do desejo, desse humor - histérico segundo os médicos, satânico segundo os que pensam um pouco melhor que os médicos - que nos arrasta sem resistência a inúmeras ações perigosas ou incovenientes.)

A primeira pessoa que avistei na rua foi um vidraceiro, cujo grito dilacerante, dissonante, subiu até mim através da pesada e suja atmosfera parisiense. Ser-me-ia impossível dizer por quê - senti-me possuído, em relação àquele homem, de um ódio súbito e despótico.

- Olá! Olá!

Gritei-lhe que subisse. Entretanto refletia, não sem algum prazer, que, ficando o quarto no sexto andar e sendo a escada muito estreita, ele teria de sentir alguma dificuldade em realizar a ascensão, e não poderia defender de numerosos esbarrões a sua frágil mercadoria.

Apareceu, afinal; examinei-os, curioso, todos os seus vidros, e disse-lhe:

- Como? Não tem vidro de cor? vidros róseos, vermelhos, azuis, vidros mágicos, vidros paradisíacos? Descarado! ousa andar em bairros pobres, e não tem, sequer, vidros que façam ver o lado belo da vida!

E empurrei-o energicamente para a escada, onde ele tropeçou, a resmungar.

Aproximei-me do balcão, agarrei um pequeno jarro de flores e, quando o homem reapareceu na soleira, deixei cair perpendicularmente a minha máquina de guerra sobre o resultado posterior da sua carga; e, como o choque o derrubasse de costas, ele acabou de espedaçar sob o dorso toda a sua pobre fortuna ambulatória, que produziu o fragor de um palácio de cristal fendido pelo raio.

E, ébrio da minha loucura, gritei-lhe furioso:


- O lado belo da vida! O lado belo da vida!

Esses graciosos nervosos não deixam de ter o seu perigo, e podem muitas vezes custar caro. Que importa, porém, a danação eterna a quem encontrou num segundo o infinito do prazer?