BLOG COM TEXTOS LITERÁRIOS PARA ENTRETENIMENTO


Para ler poemas, fragmentos e poesia em prosa que ousei publicar na internet, veja www.lapidandopedras.blogspot.com

sábado, 22 de setembro de 2012

ANA AKHMÁTOVA


Ela não teria seguido ('fielmente') o movimento dos poetas russos do século XX. Dizem "neo-clássica". Um resumo da biografia esclarece que, ainda não seguindo a 'corrente', ela não fugiu da Rússia do seu tempo, como muitos outros; nem, ao menos, quando seu marido, outro poeta, fora fuzilado no país. O verso - a poesia - era para ela todos os estados e governos da conjutura total da sua época. Neste domínio da arte, há alegria para a autora, ainda que tendo sofrido suas experiências de vida particulares.


Do Ciclo 'Os Mistérios do Ofício' - Ana Akhmátova

Não me importa o exército das odes,
Nem o jogo torneado da elegia.
Nos versos, tudo é fora de propósito,
Não como entre as pessoas, - me dizia.

Saibam vocês, o verso, é do monturo
Que ele se alenta, sem vexame disso,
Como um dente-de-leão pegado ao muro,
Anserina, bardana, erva-de-lixo.

Grito de zanga, um travo de alcatrão,
Um bolor misterioso que esverdinha...
E eis o verso, furor e mansidão,
Para a alegria de vocês e minha.

 [Trad. Haroldo de Campos e Bóris Schnaiderman]

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

TEXTO: CORTÁZAR - ASUNTO: POE - CRÍTICA: LA CRÍTICA POR HUXLEY



Por otra parte, sin embargo, esta frialdad, paradójicamente visible en el entusiasmo de la investigación, deriva de una actitud condenable: la de desconocer que la profunda presencia de Poe en la literatura es un hecho más importante que las flaquezas o deméritos de una parte de su obra. Cuando un Aldous Huxley borda pulcras variaciones sobre el mal gusto de Poe, ejemplificándolo con pasajes de sus poemas más famosos, cabe preguntarse por qué esos poemas están presentes en su memoria y su irritación cuando tantos otros de impecable factura duermen olvidados por él....

terça-feira, 18 de setembro de 2012

EL AMOR EN LOS TIEMPOS DEL CÓLERA - FIN


Florentino Ariza lo escuchó sin pestañear. Luego miró por las ventanas el círculo completo del cuadrante de la rosa náutica, el horizonte nítido, el cielo de diciembre sin una sola nube, las aguas navegables hasta siempre, y dijo:

-Sigamos derecho, derecho, derecho, otra vez hasta La Dorada.

Fermina Daza se estremeció, porque reconoció la antigua voz iluminada por la gracia del Espíritu Santo, y miró al capitán: él era el destino. Pero el capitán no la vio, porque estaba anonadado por el tremendo poder de inspiración de Florentino Ariza.

-¿Lo dice en serio? -le preguntó.

-Desde que nací -dijo Florentino Ariza-, no he dicho una sola cosa que no sea en serio.

El capitán miró a Fermina Daza y vio en sus pestañas los primeros destellos de una escarcha invernal. Luego miró a Florentino Ariza, su dominio invencible, su amor impávido, y lo asustó la sospecha tardía de que es la vida, más que la muerte, la que no tiene límites.

-¿Y hasta cuándo cree usted que podemos seguir en este ir y venir del carajo? -le preguntó.

Florentino Ariza tenía la respuesta preparada desde hacía cincuenta y tres años, siete meses y once días con sus noches.

-Toda la vida --dijo.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

CAMPOS DE CARVALHO - A LUA VEM DA ÁSIA

Capítulo Primeiro

Aos 16 anos matei meu professor de lógica. Invocando a legítima defesa - e qual defesa seria mais legítima? - logrei ser absolvido por cinco votos  contra dois, e fui morar sob uma ponte do Sena, embora nunca tenha estado em Paris.

* * *

Nota minha: outro dia comentei sobre o 'modo' pelo qual um autor deveria começar uma prosa qualquer... e um amigo me respondeu, acertadamente, 'ora, começando...'. Mas, volta e meia, continuo encontrando 'alguns modos' de começar uma prosa peculiares. Como as linhas transcritas acima. Campos de Carvalho, reconhecido depois do seu tempo, relembro, ainda foi colaborador do semanário 'O Pasquim'.

(Carvalho, Campos de, em Obra Reunida; 3a Edição. Editora José Olympio, Rio de Janeiro: 2002)

sábado, 15 de setembro de 2012

MODERNISMO, SURREALISMO E MURILO MENDES – NOTAS: JOSÉ GUILHERME MERQUIOR – POEMA: CONHECIMENTO.



MERQUIOR

 

“(...) o modernismo brasileiro foi um estilo híbrido e heterogêneo, feito da convivência ou fricção de ‘estilemas’ tipicamente ‘arte moderna’. (...) Por isso mesmo é que nosso modernismo literário seria (...) um ‘complexo’ estilístico. Não foi por acaso que só pôde ter a unidade de um ‘movimento’, jamais a uniformidade de uma ‘escola’. (...).”

 

“(...) Por outro lado, porém, mesmo instintivamente é fácil perceber que há algo inadequado em encarar-se o surrealismo como um ‘estilo’. (...) Quer dizer, o projeto surreal não era, em substância, estético, mas sim de cunho, antes de tudo, existencial. (...) do ponto de vista de suas intenções originárias, patenteadas pela maioria dos seus ritos semióticos, o surrealismo não se queria um estilo a mais, e sim uma autêntica ‘revolução cultural’. (...).”

 

“(...) e não às receitas de escola, tipo ‘escrita automática’ (...). O vou-me-emborismo, o legado baudelaireano e rimbaudiano da ‘poesia da partida’, encontra em Murilo um desdobramento dialético, representado por um constante impulso de estar no mundo. (...) Em Murilo, a ruptura onírica, o transfiguracionismo visionário possuem sempre um endereço infalivelmente imanentista.”

 

“(...) ‘Murilo orienta decisivamente a mescla estilística inerente à poesia surreal’ – a tensão, no verso, entre a visão ‘problemática’ da vida e as múltiplas referências ao reino do cotidiano e do vulgar – ‘para uma ótica saturnal’. (...).”

 

“(...) Os modernismos, como é sabido, de vez em quando gostavam de fazer pipi no colo do decoro literário. A ‘distância clássica’ da imagística, a eufonia do ritmo na média da alta poesia vitoriana passaram de repente a soar tão falso, que somente hoje, com um quarto de século de permeio, recomeçamos a apreciar com isenção a ética da estética oitocentista. Nos anos heroicos da vanguarda, isso era, naturalmente, quase impossível, e Pound (com quem Murilo se entendeu muito bem) reclamava virtuoso a rejeição de toda ‘Tennysoniannes of speech’. (...).”

 

* * * * *

 

Minha nota: até hoje, muitos poetas, críticos e teóricos insistem em negar a apreciação da ética contida na estética de outros tempos, por causa de suas estéticas, gostos, preconceitos e ideologias próprias, esquecendo-se do conteúdo ético que não se aprende via ‘escolas’.

 

* * * * *

 

MURILO MENDES – CONHECIMENTO (em A Poesia em Pânico – 1937)

 

CONHECIMENTO

 

A marcha das constelações me segue até no lodo.

Estendo os braços para separar os tempos

E indico ao navio de poetas o caminho do pânico.

Quem sou eu? A sombra ambulante de meus pais até o primeiro homem,

Quem sou eu? Um cérebro deixado em pasto aos bichos,

Sou a fome de mim mesmo e de todos,

Sou o alimento dos outros,

Sou o bem encarcerado e o mal que não germina.

Sou a própria esfinge que me devora.

 

* * * * *

 

(Merquior, José Guilherme. Notas para uma Murisloscopia; e Mendes, Murilo. Poesia Completa e Prosa. Volume único. Nova Aguilar: Rio de Janeiro: 1994)

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

SEVEN SEALS - D.H.Lawrence

THE SEVENTH SEAL

O último livro do novo testamento, Apocalipse, descreve em seus capítulos sete selos, ou sete confirmações, autenticações, em tom profético, os quais protegeriam o próprio livro. Segundo um amigo, são sete passagens apocalípticas nas quais não se encontraria a gênese. Não se encontraria a gênese, sim; pois, ao final de cada século, a humanidade tem optado pela guerra ao longo dos temp
os. Os seis primeiros selos estão contidos no capítulo 6; e, o sétimo selo, no 8 do "Book of Revelations". Tema artístico de ontem, hoje e amanhã. O destaque fica para o filme de Ingmar Bergman, com Max von Sydow, imperdível. Aqui, um trecho (parte final), sobre o mesmo tema, cantado, em poesia, por D.H.Lawrence... No texto abaixo, há um viés do apocalipse bíblico: a espada do Senhor seria afiada, como os versos encerram o poema.
 

 SEVEN SEALS

(...)

And there
Full mid-between the champaign of your breast
I place a great and burning seal of love
Like a dark rose, a mystery of rest
On the slow bubbling of your rhythmic heart.

Nay, I persist, and very faith shall keep
You integral to me. Each door, each mystic port
Of egress from you I will seal and steep
In perfect chrism.

Now it is done. The mort
Will sound in heaven before it is undone.

But let me finish what I have begun
And shirt you now invulnerable in the mail
Of iron kisses, kisses linked like steel.
Put greaves upon your thighs and knees, and frail
Webbing of steel on your feet. So you shall feel
Ensheathed invulnerable with me, with seven
Great seals upon your outgoings, and woven
Chain of my mystic will wrapped perfectly
Upon you, wrapped in indomitable me.

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

'CANCIONEIRO' - FERNANDO PESSOA - ABAT-JOUR

"Fixar um estado de alma, ainda que não o seja, em versos que o traduzam impessoalmente; descrever as emoções que se não sentiram com a própria emoção com que sentiram - é este o privilégio do poeta, se o não o fossem, ninguém os acreditava.....De resto, o único prefácio de uma obra é o cérebro que quem a lê."

(IX, Para a compreensão de 'cancioneiro', de 'Páginas Íntimas e de Auto-Interpretação'
; Ed. Atíca, Lisboa). Um mero 'abat-jour' causa tudo isso...

ABAT-JOUR

A lâmpada acesa
(Outrem a acendeu)
Baixa uma beleza
Sobre o chão que é meu.
No quarto deserto
Salvo o meu sonhar,
Faz no chão incerto
Um círculo a ondear.
E entre a sombra e a luz
Que oscila no chão
Meu sonho conduz
Minha inatenção.
Bem sei ... Era dia
E longe de aqui...
Quanto me sorria
O que nunca vi!
E no quarto silente
Com a luz a ondear
Deixei vagamente
Até de sonhar...

Com Simony Braga
, FERNANDO PESSOA, POESIAS. (Nota explicativa de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.) ( Lisboa: Ática, 1942, 15ª ed. 1995), in CANCIONEIRO.

sábado, 1 de setembro de 2012

FRAGMENTOS - 'PORTRAIT OF A LADY - PRUFROCK - 1917, T.S.Eliot

II
 

Now that lilacs are in bloom / She has a bowl of lilacs in her room / and twists one in her fingers while she talks. / 'Ah, my friend, you do not know, you do not know / What life is, you who hold it in your hands' / (slowly twisting the lilac stalks) / 'You let it flow from you, you let it flow, / And youth is cruel, and has no remorse / And smiles at situations which it cannot see' / I smile, of course / And go on drinking tea.

You are invulnerable; you have no Achilles’ heel. / You will go on, and when you have prevailed / you can say: at this point many one has failed. / But what have I, my friend / to give you, what can you receive from me? / Only the friendship and the sympathy / of one about to reach a journey’s end. / I shall sit here, serving tea for friends…
 

I take my hat: how can I make a cowardly amend / for what she has said to me? / You will see me any morning in the park / reading comics and the sporting page. / Particularly I remark / An English countess goes upon the stage. / A Greek was murdered at a Polish dance. / Another bank defaulter has confessed. / I keep my countenance, / I remain self-possessed / except when a street – piano / reiterates some common song / with the smell of hyacinths across the garden / recalling things that other people have desired. / Are these ideas wright or wrong?

III

 

‘Perhaps you can write to me.’ / My self-possession flares up for a second; / ‘this is what’ as I had reckoned. / ‘I have been wondering frequently of late / (but our beginnings never know our ends) / why we have not developed into friends.’ / I feel like one who smiles / and turning shall remark / suddenly, his expression in a glass. / My self-possession gutters; / We are really in the dark.
 

‘For everybody said so, all of our friends / they all were sure our feelings would relate / so closely! I myself can hardly understand. / We must leave it now to fate. / You will write, at any rate. / Perhaps it is not too late. / I shall sit here serving tea for friends’.
 

And I must borrow every changing shape / to find an expression… dance, dance / like a dancing bear / cry like a parrot, chatter like an ape. / Let us take the air / in a tobacco trance –


Well!! What if she should die some afternoon / should die and leave me / sitting pen in a hand/ with the smoking coming down / above the housetops; / doubtful, for a while / not knowing what to feel or if I understand / or whether wise or foolish / tardy or too soon… / Would she not have the advantage, after all? / This music is successful with a ‘dying fall’, / now that we talk about dying – / Should I have the right to smile?