DOS
MÉTODOS DE COMPOSIÇÃO
Hoje
em dia, é preciso escrever muito; - portanto, é preciso andar depressa; -
portanto, - é preciso apressar-se lentamente; portanto, é preciso que todos os
golpes acertem e que nenhum toque seja inútil.
Para
escrever depressa, é preciso ter sentido muito – ter arrastado consigo um
assunto sem cessar, no passeio, no banho, no restaurante, e quase até junto à
amante. (...)
Algumas
pessoas, das mais distintas e conscienciosas (...) começam por encher bastante
papel; chamam isso de recobrir a tela. Essa confusa operação tem por fim não
perder nada. Depois, a cada vez que a recopiam, desbastam e podam. Mesmo que o
resultado seja excelente, é abusar do próprio tempo e do próprio talento. Recobrir
uma tela não é carrega-la de cores, é esboçar em esfregaços, é dispor massas em
tons leves e transparentes – a tela deve estar coberta – em espírito – na hora
em que o escritor pega da pena para escrever o título.
Diz-se
que Balzac atravanca sua cópia e suas provas de maneira desordenada. (...) É
sem dúvida esse método que muitas vezes dá ao estilo aquele não-sei-de-quê de
difuso, de desarrumado e de rascunho – único defeito desse grande historiador.
(tradução
Joanna Angélica de Melo e Marcella Mortara – Obra Completa – Nova Aguilar
Editora)