BLOG COM TEXTOS LITERÁRIOS PARA ENTRETENIMENTO


Para ler poemas, fragmentos e poesia em prosa que ousei publicar na internet, veja www.lapidandopedras.blogspot.com

domingo, 22 de setembro de 2013

MARCEL PROUST - NO CAMINHO DE SWANN - SOMENTE UM TRECHO - DE UM PARÁGRAFO

Aos que dizem que hoje há de vigorar, na construção do texto, sujeito, verbo, objeto e ponto final. Não necessariamente. Dependeria sempre do propósito do texto. No texto literário, a tendência contemporânea não se justifica, principalmente, para aqueles que sabem trabalhar orações subordinadas longas... (e são traduzidos por quem conhecem o ofício).


Proust – No Caminho de Swann – Trad. Mario Quintana – 11ª Edição – p. 166



“Em breve o curso do Vivonne começava a se obstruir de plantas aquáticas. Primeiro, havia algumas isoladas, como aquele Nenúfar ao qual a correnteza, em que desastradamente se atravessara, tão pouco lhe consentia que, como um barco acionado mecanicamente, só abordava uma das margens para regressar à outra de onde viera, refazendo eternamente a dupla travessia. Impelido pela margem, seu pedúnculo se desenrolava, alongava-se, atingindo o extremo limite de sua tensão, até a riba onde a correnteza volvia a colhê-lo, e então a verde cordagem se enrolava sob si mesma, e trazia de novo a pobre planta ao que maior razão se podia denominar seu ponto de partida, porquanto ela não se demorava ali um só segundo sem outra vez partir para outra repetição da mesma manobra. Eu tornava a encontrá-la de passeio em passeio, sempre na mesma situação, fazendo pensar em certos neurastênicos, em cujo número meu avô incluía a tia Leonie, que nos oferecem, sem mudança, no curso dos anos, o espetáculos dos hábitos esquisitos, de que cada vez eles se julgam prestes a libertar-se e que conservam sempre; colhidos na engrenagem de suas indisposições e manias, os esforços que inutilmente se debatem para delas sair só servem para assegurar o funcionamento de sua dietética estranha, inelutável e funesta. Tal era aquele Nenúfar, também semelhante a um desses infelizes cuja singular tortura, que se repete indefinidamente por toda a eternidade, provocava a curiosidade de Dante e cujas particularidades e causas ele desejaria ouvir mais longamente da boca do próprio supliciado, se Virgílio, afastando-se a longos passos, não obrigasse a alcançá-lo depressa, como eu a meus pais.”

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

El Fenómeno Religioso y la Anécdota - Gonzalo Arango


“Allá había una iglesia […] Entré a pedir las tres gracias, como me había enseñado mi madre. Pandequeso, que me librara Dios del fuego eterno…En el altar estaban haciendo unas reparaciones. Los albañiles charlaban recios y fumaban. Todo al pie del Santísimo Sacramento. […] Logre hablar con el párroco y le exprese todo mi dolor. Muy tranquilo me dio una palmada en el hombro y me dijo:- ‘Bueno, bonito les llamaré la atención’. Volví al templo. Seguían aquellos hombres en su profanación, y el cura no apareció…”

segunda-feira, 29 de julho de 2013

FERNANDO PESSOA - NOTAS AUTOBIOGRÁFICAS E DE AUTOGNOSE

Um pouco sobre política atual, escrita há mais de cem anos...

* * *

"O meu intenso sofrimento patriótico, o meu intenso desejo de melhorar Portugal, provocam em mim (...) mil projectos que, mesmo se realizáveis por um só homem, exigiriam dele uma característica puramente negativa em mim - força de vontade. Mas sofro - até os limites da loucura, juro-o - como se tudo eu pudesse fazer sem, no entanto, o poder realizar, por deficiência da vontade. (...)

E, depois, incompreendido. Ninguém suspeita do meu amor patriótico, mas intenso do que o de todos aqueles a quem encontro ou conheço. (...) Como posso dizer que a sua preocupação não iguala a minha? Porque, nalguns casos - na maior parte, até - o seu temperamento é inteiramente diferente; porque, noutros casos, a sua maneira de falar revela a ausência de, ao menos, um patriotismo nominal.

(...)

Além dos meu projectos patrióticos - escrever 'República de Portugal', provocar aqui uma revolução, escrever panfletos portugueses, (...), fundar um periódico, (...) etc. - outros planos em que me consumo na necessidade de serem em breve postos em prática (...) conjugam-se para produzir um impulso excessivo que me paralisa a vontade. (...)

quarta-feira, 29 de maio de 2013

Edimilson - Cartografía II

CARTOGRAFÍA II – EDIMILSON 

el norte es laberinto

aunque el mar
se resuelva
en continente

y el continente vertido
en cuerpo
se admire de la propia
ganancia

: en la superficie
los embates son fábricas
de artificios
y muertos

lo que fue arrojado
a las olas
sube al maxilar
de la historia

pero por si no
reinventa la máquina
es necesario revolver
el eclipse

que sirvió
de timón a la barca
y de venda
a los embarcados

: hacia el norte otro
norte
como si el viaje no
fuese cárcel

y la ruta
de la sangre apellido
escarnio
como si la caverna

(donde la razón
madura)
no fuese la boca
del monstruo

: al norte la
desorientación y el
sigilo
los huesos del oficio

la memoria
colecciona lapsos
por eso
asáltala con

el lenguaje
extraído con fórceps
del mar
: al norte

una confrontación
de ostras
hasta que el exilio
termine

y la máquina
suene
música, otra que
no la muerte



Tradução de Tereza Arigón e Camilla Alves

sexta-feira, 3 de maio de 2013

Claudio Willer

[a imagem da ultima linha]




impulsionava-nos certa atração pelo sublime
e nós nos entretínhamos a decifrar a errante caligrafia do tempo
nervosamente rabiscada na pauta das ondas
até que punhais de nuvens arcaicas emoldurando o entardecer
viessem se cravar em nosso i
nfinito
e sentíssemos os cabelos da noite crescerem vagarosamente
pois a escuridão havia chegado
para reclinar-se em seu colchão de maresias
então,
entre a onda e o lampejo da onda
entrevimos o perfil em chamas de nossos corpos
entre o vivido e o não-vivido
o traço cambiante da arrebentação
entre os ruídos do mar e os ruídos da cidade
a complicada geometria de nossos silêncios
e um insperado perfume de jasmins
por mim
nunca mais sairia dali
ficaria por lá mesmo
para sempre percorrendo a praia
a acompanhar a insofrida inquietação dos astros presos a suas órbitas

sábado, 2 de março de 2013

Paulo Mendes Campos - Neste Soneto - 1951


Neste soneto

Neste soneto, meu amor, eu digo,
Um pouco à moda de Tomás Gonzaga,
Que muita coisa bela o verso indaga
Mas poucos belos versos eu consigo.

Igual à fonte escassa no deserto,
Minha emoção é muita, a forma é pouca.
Se o verso errado sempre vem-me à boca,
Só no meu peito vive o verso certo.

Ouço uma voz soprar à frase dura
Umas palavras brandas, entretanto,
Não sei caber as falas de meu canto

Dentro de forma fácil e segura.
E louvo aqui aqueles grandes mestres
Das emoções do céu e das terrestres.

sexta-feira, 1 de março de 2013

Definición - Lope de Vega


Desmayarse, atreverse, estar furioso,
aspero, tierno, liberal, esquivo,
alentado, mortal, difunto, vivo,
leal, traidor, cobarde y animoso;

no hallar fuera del bien, centro y reposo,
mostrarse alegre, triste, humilde, altivo,
enojado, valiente, fugitivo, 
satisfecho, ofendido, receloso;

huir el rostro al claro desengano,
beber veneno por licor suave,
olvidar el provecho, amar el dano,

creer que un cielo en un infierno cabe,
dar la vida y el alma a un desengano,
esto es amor; quien lo probo, lo sabe.

domingo, 24 de fevereiro de 2013

Baudelaire - La Destruction



La Destruction

Sans cesse à mes côtés s'agite le Démon;
II nage autour de moi comme un air impalpable;
Je l'avale et le sens qui brûle mon poumon
Et l'emplit d'un désir éternel et coupable.

Parfois il prend, sachant mon grand amour de l'Art,
La forme de la plus séduisante des femmes,
Et, sous de spécieux prétextes de cafard,
Accoutume ma lèvre à des philtres infâmes.

II me conduit ainsi, loin du regard de Dieu,
Haletant et brisé de fatigue, au milieu
Des plaines de l'Ennui, profondes et désertes,

Et jette dans mes yeux pleins de confusion
Des vêtements souillés, des blessures ouvertes,
Et l'appareil sanglant de la Destruction!

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

BAUDELAIRE - LE COUVERCLE


BAUDELAIRE - LE COUVERCLE

En quelque lieu qu'il aille, ou sur mer ou sur terre,
Sous un climat de flamme ou sous un soleil blanc,
Serviteur de Jésus, courtisan de Cythère,
Mendiant ténébreux ou Crésus rutilant,

Citadin, campagnard, vagabond, sédentaire,

Que son petit cerveau soit actif ou soit lent,
Partout l'homme subit la terreur du mystère,
Et ne regarde en haut qu'avec un oeil tremblant.

En haut, le Ciel! Ce mur de caveau qui l'étouffe,
Plafond illuminé par un opéra bouffe
Où chaque histrion foule un sol ensanglanté;

Terreur du libertin, espoir du fol ermite;
Le Ciel! Couvercle noir de la grande marmite
Où bout l'imperceptible et vaste Humanité. 




A TAMPA - (TRAD. IVAN JUNQUEIRA)
 


Seja aonde for que vá em torno desta esfera,
Sob um clima de fogo ou sob um sol distante,
Servidor de Jesus ou cortesão de Citera,
Mendigo tenebroso ou Creso rutilante,

Pária, campônio, citadino e às vezes fera,
Seja-lhe o cérebro moroso ou esfuziante,
O homem sucumbe ante o mistério que o exaspera,
E não eleva o olhar senão por um breve instante.

No alto, o Céu! Paredão que o abafa como estufa,
Cenário ébrio de luz para uma ópera bufa
De cujo palco ensanguentado o histrião se serve;

Terror do libertino, anseio do eremita;
O Céu! Tampa sombria da imensa marmita
Onde indivisa a vasta Humanidade ferve.

BAUDELAIRE - LA FONTAINE DU SANG


LA FONTAINE DU SANG


Il me semble parfois que mon sang coule à flots,
Ainsi qu'une fontaine aux rythmiques sanglots.
Je l'entends bien qui coule avec un long murmure,
Mais je me tâte en vain pour trouver la blessure.

À travers la cité, comme dans un champ clos,
Il s'en va, transformant les pavés en îlots,
Désaltérant la soif de chaque créature,

Et partout colorant en rouge la nature.

J'ai demandé souvent à des vins captieux
D'endormir pour un jour la terreur qui me mine;
Le vin rend l'oeil plus clair et l'oreille plus fine!

J'ai cherché dans l'amour un sommeil oublieux;
Mais l'amour n'est pour moi qu'un matelas d'aiguilles
Fait pour donner à boire à ces cruelles filles!

 

A FONTE DE SANGUE - TRAD. IVAN JUNQUEIRA


Sinto por vezes que meu sangue corre em fluxos,
Assim qual uma fonte em rítmicos soluços.
Eu bem que o escuto numa súplica perdida,
Mas me tateio em vão em busca da ferida.

Pela cidade vai, como entre espessos buxos,
As lajes transformando em ilhas e repuxos,
Matando a sede em cada boca ressequida
E a paisagem deixando em púrpura tingida.

Muitas vezes pedi a um vinho caviloso
Aplacar por um dia o horror que me domina;
O vinho aguça o ouvido e os olhos ilumina!

Busquei então no amor um sono descuidoso;
Mas o amor para mim é um leito de suplício
Que a sede há de saciar a essas nifas do vício!

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

BAUDELAIRE - LA MUSE MALADE


La Muse Malade

Ma pauvre muse, hélas! qu'as-tu donc ce matin?
Tes yeux creux sont peuplés de visions nocturnes,
Et je vois tour à tour réfléchis sur ton teint
La folie et l'horreur, froides et taciturnes.


Le succube verdâtre et le rose lutin
T'ont-ils versé la peur et l'amour de leurs urnes?
Le cauchemar, d'un poing despotique et mutin
T'a-t-il noyée au fond d'un fabuleux Minturnes?


Je voudrais qu'exhalant l'odeur de la santé
Ton sein de pensers forts fût toujours fréquenté,
Et que ton sang chrétien coulât à flots rythmiques,


Comme les sons nombreux des syllabes antiques,
Où règnent tour à tour le père des chansons,
Phoebus, et le grand Pan, le seigneur des moissons.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

CIEN AÑOS DE SOLEDAD - EL COMIENZO

I



Muchos años después, frente al pelotón de fusilamiento, el coronel Aureliano Buendía había de recordar aquella tarde remota en que su padre lo llevó a conocer el hielo. Macondo era entonces una aldea de veinte casas de barro y cañabrava construidas a la orilla de un río de aguas diáfanas que se precipitaban por un lecho de piedras pulidas, blancas y enormes como huevos prehistóricos. El mundo era tan reciente, que muchas cosas carecían de nombre, y para mencionarlas había que señalarlas con el dedo. Todos los años, por el mes de marzo, una familia de gitanos desarrapados plantaba su carpa cerca de la aldea, y con un grande alboroto de pitos y timbales daban a conocer los nuevos inventos. Primero llevaron el imán. Un gitano corpulento, de barba montaraz y manos de gorrión, que se presentó con el nombre de Melquíades, hizo una truculenta demostración pública de lo que él mismo llamaba la octava maravilla de los sabios alquimistas de Macedonia. Fue de casa en casa arrastrando dos lingotes metálicos, y todo el mundo se espantó al ver que los calderos, las pailas, las tenazas y los anafes se caían de su sitio, y las maderas crujían por la desesperación de los clavos y los tornillos tratando de desenclavarse, y aun los objetos perdidos desde hacía mucho tiempo aparecían por donde más se les había buscado, y se arrastraban en desbandada turbulenta detrás de los fierros mágicos de Melquíades. "Las cosas tienen vida propia —pregonaba el gitano con áspero acento—, todo es cuestión de despertarles el ánima." José Arcadio Buendía, cuya desaforada imaginación iba siempre más lejos que el ingenio de la naturaleza, y aun más allá del milagro y la magia, pensó que era posible servirse de aquella invención inútil para desentrañar el oro de la tierra. Melquíades, que era un hombre honrado, le previno: "Para eso no sirve." (...)