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quinta-feira, 6 de setembro de 2012

'CANCIONEIRO' - FERNANDO PESSOA - ABAT-JOUR

"Fixar um estado de alma, ainda que não o seja, em versos que o traduzam impessoalmente; descrever as emoções que se não sentiram com a própria emoção com que sentiram - é este o privilégio do poeta, se o não o fossem, ninguém os acreditava.....De resto, o único prefácio de uma obra é o cérebro que quem a lê."

(IX, Para a compreensão de 'cancioneiro', de 'Páginas Íntimas e de Auto-Interpretação'
; Ed. Atíca, Lisboa). Um mero 'abat-jour' causa tudo isso...

ABAT-JOUR

A lâmpada acesa
(Outrem a acendeu)
Baixa uma beleza
Sobre o chão que é meu.
No quarto deserto
Salvo o meu sonhar,
Faz no chão incerto
Um círculo a ondear.
E entre a sombra e a luz
Que oscila no chão
Meu sonho conduz
Minha inatenção.
Bem sei ... Era dia
E longe de aqui...
Quanto me sorria
O que nunca vi!
E no quarto silente
Com a luz a ondear
Deixei vagamente
Até de sonhar...

Com Simony Braga
, FERNANDO PESSOA, POESIAS. (Nota explicativa de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.) ( Lisboa: Ática, 1942, 15ª ed. 1995), in CANCIONEIRO.

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