Ela não teria seguido ('fielmente') o movimento dos poetas russos do século XX. Dizem "neo-clássica". Um resumo da biografia esclarece que, ainda não seguindo a 'corrente', ela não fugiu da Rússia do seu tempo, como muitos outros; nem, ao menos, quando seu marido, outro poeta, fora fuzilado no país. O verso - a poesia - era para ela todos os estados e governos da conjutura total da sua época. Neste domínio da arte, há alegria para a autora, ainda que tendo sofrido suas experiências de vida particulares.
Do Ciclo 'Os Mistérios do Ofício' - Ana Akhmátova
Não me importa o exército das odes,
Nem o jogo torneado da elegia.
Nos versos, tudo é fora de propósito,
Não como entre as pessoas, - me dizia.
Saibam vocês, o verso, é do monturo
Que ele se alenta, sem vexame disso,
Como um dente-de-leão pegado ao muro,
Anserina, bardana, erva-de-lixo.
Grito de zanga, um travo de alcatrão,
Um bolor misterioso que esverdinha...
E eis o verso, furor e mansidão,
Para a alegria de vocês e minha.
[Trad. Haroldo de Campos e Bóris Schnaiderman]
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