O que mais me impressionou no poeta da Sérvia é o animismo. A forma como ele descreve objetos inanimados traz os sentidos humanos para a margem de um universo único e promove a catárse poética. A referência é o livro Osso a Osso, Org. Aleksandar Jovanovic´, Coleção Signos, Editora Perspectiva (co-edição da Editora da USP), São Paulo: 1989.
NO CINZEIRO
Um sol miúdo
De cabelos amarelados de fumo
Apaga-se no cinzeiro
O sangue de um batom barato amamenta
Os corpos mortos das pontas de cigarro
Palitos descabeçados desejam
Coroas de enxofre
Profundezas das cinzas relincham
Freadas sobre as patas traseiras
Mão enorme
De olho ardente no meio da palma
Espreita no horizonte
NO CABIDE
Golas mordiscaram
Os vazios-pescoço dependurados
Últimos pensamentos depositam-se
Nos chapéus quentes
Dedos do anoitecer espreitam
De dentro das mangas-viuvez
Um terror verde brota
Nas rugas-mansidão
Adiciono comentário do Waldo Motta:
ResponderExcluir"É o tipo de poesia que me interessa que alegoriza, personifica e até diviniza objetos, emoções, ideias, elementos, forças naturais, astros, átomos e partículas subatômicas. O universo é um ser vivo."