BLOG COM TEXTOS LITERÁRIOS PARA ENTRETENIMENTO


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sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

VASKO POPA

O que mais me impressionou no poeta da Sérvia é o animismo. A forma como ele descreve objetos inanimados traz os sentidos humanos para a margem de um universo único e promove a catárse poética. A referência é o livro Osso a Osso, Org. Aleksandar Jovanovic´, Coleção Signos, Editora Perspectiva (co-edição da Editora da USP), São Paulo: 1989.


NO CINZEIRO

Um sol miúdo
De cabelos amarelados de fumo
Apaga-se no cinzeiro

O sangue de um batom barato amamenta
Os corpos mortos das pontas de cigarro

Palitos descabeçados desejam
Coroas de enxofre

Profundezas das cinzas relincham
Freadas sobre as patas traseiras

Mão enorme
De olho ardente no meio da palma
Espreita no horizonte


NO CABIDE

Golas mordiscaram
Os vazios-pescoço dependurados

Últimos pensamentos depositam-se
Nos chapéus quentes

Dedos do anoitecer espreitam
De dentro das mangas-viuvez

Um terror verde brota
Nas rugas-mansidão

Um comentário:

  1. Adiciono comentário do Waldo Motta:

    "É o tipo de poesia que me interessa que alegoriza, personifica e até diviniza objetos, emoções, ideias, elementos, forças naturais, astros, átomos e partículas subatômicas. O universo é um ser vivo."

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